Psicodélico: Ayahuasca

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Ayahuasca

O que é a ayahuasca?

A ayahuasca é uma bebida enteógena preparada com segmentos da planta trepadeira da ayahuasca (Banisteriopsis caapi). Partes da planta são fervidas com folhas de qualquer uma de várias outras plantas possíveis, tais como a chacrona (Psychotria viridis) ou a jurema-preta (Mimosa hostilis), resultando numa poção que contém o poderoso alcalóide alucinógeno DMT, misturado com um inibidor da enzima MAO, tais como a harmalina, a harmina ou a d-tetrahidroharmina - contidas na planta da ayahuasca ou nas sementes da arruda síria (Peganum harmala). Por isso a espécie pode variar, mas os alcalóides são sempre consistentes.A potência da poção varia radicalmente de uma preparação para outra, tanto em força como no efeito psicoactivo, dependendo basicamente na perícia do xamã que a prepara, e noutras mesclas que podem ser acrescentadas.

É significante notar que nenhuma destas plantas seria normalmente psicoactiva sozinha em doses orais. Diz-se que a harmina/harmalina tem efeitos alucinógenos em níveis altamente tóxicos, mas em quantidades menos heróicas é no seu melhor um tranquilizante, e no seu pior um purgante. O DMT, em qualquer quantidade, não actua oralmente a não ser quando misturado com uma substância inibidora da enzima monoamina oxidase (MAO). Este princípio é precisamente o que torna a ayahuasca efectiva; os alcalóides de harmala na planta da ayahuasca são potentes inibidores da MAO por curto tempo, que cooperam com plantas que contêm DMT para produzirem o que tem sido descrito como uma das mais profundas experiências psicadélicas.

História

A harmalina foi isolada pela primeira vez das sementes de arruda síria (Peganum harmala) em 1841, e o primeiro relatório ocidental dos efeitos psicoactivos da planta da ayahuasca (no Peru) data de 1851. Vários relatórios foram publicados em meados do século 19 sobre o uso da planta da ayahuasca. Em 1922-1923 foram filmadas cerimónias tradicionais do uso da poção de ayahuasca, e mostradas no encontro anual da associação farmacológica americana. A popularização da poção da ayahuasca por escrito e nos média nos finais do século 20 levou muitos norte-americanos e europeus a viajarem à América do Sul para experimentarem a poção no seu ambiente “tradicional”, criando uma nova indústria à volta deste “enteóturismo”. Esta indústria ajudou a causar uma grande alteração no modo com a poção da ayahuasca é vista nas suas terras nativas.

Hoje em dia a bebida é grandemente usada na Amazónia peruviana, equatoriana, colombiana, boliviana, brasileira, e de partes da bacia do rio Orinoco. Há provavelmente milénios que é usada na Amazónia ocidental, e está rapidamente a ganhar popularidade pela América do Sul e noutras partes através do desenvolvimento de movimentos religiosos sincréticos como as igrejas de Santo Daime, União do Vegetal (UDV), e Barquinha, entre outras.

Botânica

Informação botância dos ingredientes mais comuns da poção de ayahuasca.

Ayahuasca (Banisteriopsis caapi), também conhecida como caapi ou yage, é uma planta trepadeira da selva sul-americana, da família Malpighiaceae. As substâncias activas desta planta encontram-se no interior da casca dos ramos recentemente cortados.

Capim-amarelo (Phalaris arundinacea), é uma erva invasora, alta, perene e de aspecto grosseiro, que normalmente forma extensos povoamentos puros ao longo das margens dos lagos e das correntezas e em áreas molhadas e abertas. Os ramos podem chegar aos 2 m de altura. As folhas são azul-esverdeadas quando frescas, e cor de palha quando secas. As flores nascem no caule por cima das folhas e têm tons rosa quando florescem totalmente.

A arruda síria (Peganum harmala) é um membro da família das Zigofiláceas. Cresce do Mediterrânio ao norte da Índia, Mongólia, e Manchúria.

A chacrona (Psychotria viridis) é nativa dos vales da Amazónia, mas também se cultiva no norte da América do Sul e na maior parte da América Central. É uma árvore ou grande arbusto tropical, perene, que cresce ao sol ou meia sombra. Tem folhas grandes (crescem até aos 24 cm), ovais e pontiagudas. As suas pequenas sementes castanhas são derramadas das bagas vermelhas. Cresce normalmente em solos muito ricos e férteis.

A jurema-preta (Mimosa hostilis) é uma planta que cresce naturalmente no Brasil. Algumas das raízes crescem acima do solo; são fibrosas e partem-se facilmente. Normalmente vê-se uma cor rosa muito bonita na polpa.

Química

Substâncias bioquímicas principais: os alcalóides betacarbolinas harmina, harmalina, tetrahidroharmina, harmol, ácido harmínico, amido metil ester-harmínico, acetilnorharmina, N-óxido de harmina, ácido harmalínico e quetotetrahidronorharmina estão presentes na raiz, caules e troncos da planta da ayahuasca (Banisteriopsis caapi) e noutras espécies de Banisteriopsis.

A tetrahidroharmina ocorre em maior concentração na planta da ayahuasca que em quaisquer outras plantas com alcalóides de harmala, tais como a arruda síria (Peganum harmala) e certas espécies de maracujá (Passiflora sp.). Isto pode causar os efeitos terapêuticos mais profundos e duradouros produzidos pela poção de ayahuasca genuína comparada com outras preparações “análogas”.

Efeitos

O início depende na quantidade e na última vez que a pessoa comeu, assim como no próprio indivíduo. Os efeitos começam entre 20 a 60 minutos após a ingestão. Com doses menores os efeitos duram menos, com doses maiores mais. Variam entre 2-6 horas de efeitos máximos, e 1-8 horas de pós-efeitos, dependendo na dose e no indivíduo. Os diferentes efeitos da poção de ayahuasca seguem um trilho progressivo que inclui processos purgativos e abreactivos. O tempo é um factor importante neste progresso. Cada experiência revela padrões e níveis de compreensão de acordo com a profundidade de experiências anteriores e o nível de consciência do participante. A poção da ayahuasca não é uma substância que possa ser definida por uma consistência de efeito. As constelações da memória activadas pela ayahuasca não podem ser programadas, embora a viagem possa ser direccionada. As propriedades farmacológicas do composto psicoactivo em interacção com os antecedentes biológicos não são suficientes para definirem a influência na psique. O composto vai sempre interagir com o conjunto psicológico de cada indivíduo (motivação, personalidade, disposição, experiências anteriores) e a estrutura do local escolhido. A equação dessas estruturas será o resultado que influencia o efeito e o tipo de viagem a serem experimentados. A substância muda o seu efeito no cérebro de acordo com a influência exterior do local, uma síntese do ambiente que rodeia o particpante e a presença do seu professor, até mais que o estado emocional do participante. Uma pessoa que toma ayahuasca sozinha, por exemplo, terá uma experiência totalmente diferente que se tomar com alguém que possa direccionar a energia criada pela ayahuasca, aumentando os efeitos e moldando as viagens através do local na mente onde reside deus, que é a fonte da transformação.

Após a ingestão sentirás algumas náuseas, possivelmente com vómitos. Esta é uma fase que tens de experimentar, por isso não tentes evitá-la. É considerada parte do processo de purificação. Quando este termina, inicias a primeira parte do efeito, que é a mudança da modalidade dos sentidos. Durante os primeiros 90 minutos a audição acentua-se e as emoções expandem-se. A partir daqui a viagem pode tomar qualquer direcção. Enquanto entras noutras dimensões, deixando o plano do corpo físico, pode ocorrer-te a sensação de flutuares no ar. Uma pessoa que experimenta sessões de ayahuasca mostra melhorias notáveis a nível mental e físico, comparáveis apenas às que se procuram através de psicoterapia intensa. A ayahuasca estabelece mudanças significativas num curto espaço de tempo. A ayahuasca cria uma aceitação e um alinhamento com a simplicidade da identidade espiritual do indivíduo. A mudança resultante dos nossos valores e prioridades transforma a nossa presença, o nosso permanente sentido do ego.

Algumas experiências visionárias com ayahuasca mostrando paisagens celestiais com anjos, seres espirituais ou domínios místicos, tornam a viagem muito rica e criam uma ponte para o interior sagrado, preenchendo vários aspectos da busca espiritual.Todas essas experiências têm grande importância para a cura do indivíduo, pois criam um ponto comum para explorarem os muitos aspectos da identidade espiritual do indivíduo, num espaço de amor por si próprio e entrega, confiando na sua voz interior.

Uso tradicional

Conhecem-se pelo menos 42 nomes indígenas para esta preparação. É notável e significante que pelo menos 72 tribos indígenas diferentes da Amazónia, por mais que a distância, a língua e as diferenças culturais as separem, manifestem conhecimentos comuns e detalhados da ayahuasca e do seu uso. Por isso a ayahuasca tem sido usada há milhares de anos. Conhecemos cinco aplicações diferentes: como meio religioso de iniciação, como remédio, para iniciar clarividência, para fazer viagens astrais, e para relaxar/meditar. As tribos índias conhecem muitos rituais de ayahuasca onde há danças e cantos.

Não há muito tempo que surgiu no Brasil um novo movimento católico espiritual. Nele a poção da ayahuasca tem um papel central. Em resumo, a já mencionada igreja de Santo Daime é uma tendência, especialmente entre os índios pobres nas cidades. Encoraja-os a voltarem à Amazónia e a criarem pequenas comunidades religiosas. Nos seus encontros, nos quais também ha crianças envolvidas, toda a gente bebe ayahuasca. O êxtase enteógeno é disfrutado enquanto se canta e dança.

Uso médico

Não se conhece muita informação exacta sobre os aspectos medicinais específicos da poção da ayahuasca. Sobretudo devido à possibilidade de clarividência durante a transe, esta também é usada para procurar as causas da doença ou as situações que possam de algum modo causar a doença. Noutros países da América do Sul, por exemplo no Peru, a ayahuasca usa-se para efeitos medicinais por xamãs conhecidos como “curanderos” ou “ayahuasqueros”. Através da sua suposta intercessão com entidades espirituais, a ayahuasca revela os remédios próprios ou espiritualiade ou magia curativas. Em contraste com as noções de medicina ocidentais, acredita-se que a ayahuasca é curativa quer seja o paciente ou o xamã a tomá-la. Adicionando estes processos, disse alguém, "a natureza cura a doença enquanto o xamã entretém o paciente".

Variedades

Como já mencionámos anteriormente, existem muitas variedades diferentes de ayahuasca. Há muitas receitas em circulação (na internet) com várias misturas de plantas/sementes.

Uso

O uso moderno da poção da ayahuasca é altamente debatido. Muitas pessoas usam a ayahuasca simplesmente como mais uma droga alucinógena para “tripar”. A maioria dessas pessoas nunca mais voltará a experimentar a poção. Um uso mais aceitável é enteógeno por natureza. As pessoas procuram respostas das plantas da ayahuasca. Mas mesmo assim esquecem-se frequentemente da reverência e do estatuto sagrado da ayahuasca. É importante salientar que quanto maior for a preparação para a experiência maior será o resultado da mesma.

Avisos

Há poucos, se alguns, casos de danos ou morte associados ao uso da ayahuasca, mas é bastante possível que uma pessoa se danifique. Como um dos componentes principais da ayahuasca é um inibidor da enzima MAO, que actua para inibir essa enzima chave do nosso corpo que é responsável por processos no cérebro e no organismo inteiro, é possível teres severas reacções negativas à poção de ayahuasca. Tem o cuidado de investigar sobre as interacções dos inibidores da enzima MAO com medicamentos e certas comidas antes de tentares qualquer uso.Quando um inibidor da MAO é misturado com certos outros medicamentos ou drogas, os resultados podem ser muito desagradáveis ou mesmo fatais. Para além disso, como com qualquer outra substância psicadélica forte, a ayahuasca pode precipitar mudanças curtas ou de longo termo na personalidade, ou catalizar episódios psicóticos ou neuróticos.

Contra-indicações

A poção da ayahuasca pode ter efeitos secundários extremamente negativos se for misturada com certos tipos de medicamentos… especialmente antidepressivos tais como o Prozac e outros inibidores da recaptação da serotonina. A não ser que tenhas conhecimentos específicos sobre a interacção entre os inibidores da MAO, os inibidores da recaptação da serotonina e a poção da ayahuasca, evita qualquer experiência se estás a tomar antidepressivos.

Um comentário:

Jurema disse...

Felicitaciones por esto blog!!

Muy cierto todo lo que explicas en el articulo.
Un abrazo